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segunda-feira, 18 de maio de 2009

CAPÍTULO XI - ÚLTIMOS DIAS E MORTE






Atingimos ao fim desta vida tão agitada. Os anos e as moléstias foram aos poucos lhe abalando a saúde; hábitos torpes e animalescos estavam de há muito estragando o seu rude organismo.No entanto, se o corpo se lhe depauperava, o espírito ainda estava lúcido e a chama do ódio “!mola-mestra” da sua ação, não decaíra de intensidade. 



Ele reage contra todas as inquietações e leva para frente a sua obra de demolição, até que a morte o prostre e o torne conhecido para sempre,diante das gerações futuras, como heresiarca do século dezesseis, o triste sucessor daqueles que, através dos tempos, perturbaram a Igreja católica pelas mais variadas cisões, e cuja memória é a expressão do ódio e do vício: Ário, Pelágio, Nestório, Eutíquio, Maomé, Fócio e o pai do protestantismo. 

Sigamos Lutero nos seus últimos dias de vida.




 

1. O HOMEM TERRÍVEL


Aos seus seguidores Lutero queria deixar o seu testamento de ódio contra o Suma pontífice. Cameçous, mas não o levou a termo, pois a moléstia, viagens urgentes e, afinal, a morte, não lhe deixaram o tempo necessário para completar esta obra, a última prova de seus desvarios espirituais. 


A ardência do ódio, em vez de arrefecer perante as ameaças da morte, parecia tornar-se mais violenta, tentando envolver todos quantos discordassem de sua orientação. 

Os teólogos da Universidade de Lovaina tiveram a inaudita coragem de refutar, em 32 artigos, os principais erros do inovador. Lutero viu nisto um crime imperdoável e disse: 

LOVAINA - Bélgica

“Estou furioso contra estes quadrúpedes de Lovaina, que pretendem ensinar, a mim, um velho e tão insigne teólogo; quero dar uma lição a estes monstros de satanás, mesmo que isso me custe o último suspiro”. 



E, de fato, a resposta não se fez esperar; apareceu grosseira, orgulhosa, em 76 teses, com este título: “CONTA OS TEÓLOGO DE LOVAINA”. “Tais teses”, diz Kohler, “são mais insultuosas que instrutivas”, e deixam entrever o declive da inteligência de seu autor. 

“O homem terrível”, como o chama Melanchthon em uma carta a Camerário, “com seus ataques violentos, não suporta a mínima oposição; enerva-se, insulta, esbraveja como um endemoninhado. Oh, se pelo menos Lutero se calasse”, continua Melanchthon, “mas não há jeito. Eu esperava que a velhice e a experiência dos erros cometidos lhe abrandassem o gênio, porém acontece o contrário, ele se torna cada vez mais violento na luta e no oposição” (Corresp. Ref. I. p. 794). 

Pouco depois os teólogos da Universidade de Paris levantaram também a voz, para combater as doutrinas errôneas do reformador. 

Nova lute ia suceder à primeira; Lutero se esforçou para responder, mas chegou apenas a escrever a epígrafe do escrito e curtas observações. A moléstia lhe fez cair a pena das mãos. 

O título do novo pasquim, que não foi feito, é sugestivo e nos permite avaliar o estado de nervosidade do autor: 

“CONTRA OS ASNOS DE PARIS E LOVAINA” 

O reformador sente-se abatido, neurastênico, irritado contra si e contra os outros: 

“Tenho nojo dos homens”, exclamou ele um dia, “e o mundo tem nojo de mim”. 

“Ninguém é capaz de imaginar”, dizia ainda, ”quanto custa e que suplício é, para um homem, persuadir a crer numa doutrina que os Padres da Igreja não admitem. Que agitações em seus corações ao pensar que tantos homens excelentes, esclarecido, doutos e, por assim dizer, a maior e melhor parte do mundo cristão, acreditaram e ensinaram tal e tal artigo, e com eles tantas almas sadias: os Ambrósios, os Jerônimos, os Agostinhos! Parece-me ouvi-los, em grito de angústia, repetir em coro: A Igreja! A Igreja!... “ 

“E a alma se me confrange em dor suprema. Oh,na verdade é uma prova rude separar-se alguém de tantos personagens santos!... romper com a própria Igreja, e não ter mais fé e confiança nos próprios ensinamentos”. 

Ele escreve alhures: 

“Enche-me de espanto não ter plena confiança em minha doutrina. Por causa dela tornei-me inimigo de mim mesmo, enquanto os meus discípulos pensam sabê-lo na ponta do dedo”. 

Tais eram os pensamentos íntimos de Lutero, nas horas de calma e de reflexão. Logo, porém, voltava ao estado anterior. 

Punha-o sobretudo em desespero a visão do mal cada vez maior, que penetrava na sociedade. 

“O mundo está repleto de satã e de homens satânicos”, escreve ele em carta íntima. 

“O negócio irá mal, quando eu não estiver mais aqui. Mais de um ‘mane, tecel’ está gravado nas paredes da reforma. Examinados, um por um, os meus auxiliares, não encontro nenhum merecedor de confiança” 

2. DESGOSTOS E REMORSOS 

Externando os seus desgostos e remorsos, ele escreve a cada instante, no fim de sua vida: 

“O mundo piora todos os dias e mais malvado fica. Os homens estão hoje mais açulados às vinganças, mais avarentos, mais sem misericórdia, menos modestos, mais incorrigíveis e piores do que no papismo. Quanto é escandaloso ver-se, depois do advento da reforma, o mundo andar diariamente de mal a pior... Os nobres e os rústicos chegam a dizer não precisar de pregação, nem terem de pagar sequer um vintém por todos os nossos sermões juntos... Vivem como crêem: s~]ao e ficam porcos, e morrem como tais... Há ainda chaga mais deplorável: os pastores, sim, os próprios pastores que sobem ao púlpito, são hoje os mais vergonhosos exemplos da perversidade e de outros vícios.... Daí vem não terem os seus sermões nem mais crédito, nem mais autoridade do que as fábulas recitadas por um histrião. E esses senhores ousam queixar-se de ser desprezados e cair no ridículo... Por mim, admiro-me da paciência do povo e não sei como as crianças e o povo não os cobrem de lama”. 

Falando da corrupção do povo de Wittemberg ele esclamou um dia publicamente: 

“Fujamos desta Sodoma. Prefiro andar mendigando o meu pão a envenenar os meus últimos dias, vendo as desordens de Wittemberg... Tenho nojo do mundo... e o mundo tem nojo de mim; e isto me alegra. É já tempo de retirar-me” 

Sair de Wittemberg era o seu desejo. 

>>>>>>>>>>>ZEITZ



Em 1544 ele tentou afastar-se, mas os seus amigos o persuadiram a desistir do plano, porém foi apenas por pouco tempo, e, em fins de julho, sem avisar, deixou sorrateiramente a cidade acompanhado de seu filho Hans e de uns dois amigos: Fernando von Maups e Cruciger seus companheiros de viagem até à próxima cidade de Zeitz. 



De Zeitz escreveu à sua amásia: 

“Meu coração está um pouco refrescado; não gosto mais de ficar aí!”


. . . . . . . ..... .Casa onde Nasceu Lutero 

. . . . . ...... . . . . .

Em EISLEBEN........

Em 23 de janeiro de 1546, Lutero foi terminar uma negociações na família do landgrave Alberto Mansfeld, em Eusleben. Viajou em companhia de seus três filhos, o professor particular destres e o seu amigo Aurifaber, o futuro compilador dos seus discursos de mesa.

...........................Rio Saale - Alemanha

Durante três dias se deteve em Halle, na casa de seu amigo Jonas, por causa da inundação do rio Saale. Daí escreveu a Catarina, em 25 de janeiro: 



“Não quisemos lançar-nos à correnteza e tentar a Deus, pois o diabo, nosso inimigo, reside na água, e, depois, não quero ver o Papa alegrar-se com a notícia de minha morte” (Cartas 5. p. 780). 

No dia seguinte ele pregou em Halle, com toda a veemência permitida pela sua idade e moléstia, contra o Papa, os cardeais, os monges, que apesar de todas a suas exortações e ameaças, haviam ficando fiéis aos seus deveres e à sua religião. 

Baixando as águas do rio, no dia 28, Lutero o atravessou em companhia de Jonas, e prosseguiu a viagem para Eisleben; notando estar a enchente ainda bastante forte, o reformador gracejou para Jonas: 

“Caro amigo, não seria muito agradável ao demônio, se eu, Doutor Martinho, com meus três filhos e o senhor morrêssemos aqui afogados?” 

Não morreu afogado, mas a morte mandou-lhe um aviso da sua venda próxima. 

O tempo estava frio, e um vento gelado soprava sobre os viajantes, causando arrepios ao velho Lutero que se sentiu incomodado, com tonteiras e dificuldade de respiração. Consolou-se, entretanto, e falou ao companheiro: 

“É o diabo que me fez isso; ele costuma proceder desse modo, cada vez que pretendo fazer coisa de importante” (Hausrath 2, p. 493). 

Chegados a Eisleben, escreveu em tom zombeteiro e supersticioso aos judeus, numerosos no lugar, onde lhe acontecera o resfriar-se: 

“Vós me suscitastes esta friagem, que soprou detrás no carro e penetrou, através do meu barrete, até ao cérebro” (Cartas à Catarina, 5, p.783-1).










CRIANÇAS PATINANDO SOBRE O LAGO GEALDO


Durante sua estadia em Eisleben, Lutero vinha quase diariamente observar os patinadores do lago. Daí escreveu cartas humorísticas, incitando uma iminente repressão aos judeus, sempre avessos à sua reforma.

Pregou ali 4 vezes e ordenou dois padres, por ocasião da Ceia, “... conforme o uso apostólico” diz ele.

Em 14 de fevereiro, à sua amiga e querida Catarina comunicou estar terminado o negócio do landgrave, de que fora tratar, tencionando voltar naquela mesma semana.

No dia 16 entretendo-se à mesa, sobre a sua viagem de volta, exclamou, em tom zombeteiro, algo que se realizou, parece, por castigo divino:

“Quando estiver de volta a Wittemberg, me deitarei num cadafalso e darei de comer aos vermes um gordo doutor!” (Erling. 6l. 437).

No dia seguinte, 17, declararam-se os primeiros sintomas do ataque de apoplexia que, no dia seguinte o fulminaria repentinamente.


Como agir num caso de possível apoplexia ou ataque cardíaco
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Suspeita de Apoplexia (acidente vascular cerebral) Se a vítima estiver consciente, deite-a com os braços e os ombros ligeiramente levantados e apoiados numa almofada. Coloque a cabeça de lado para permitir que a saliva se escoe da boca. Suspeita de ataque cardíaco Se a vítima estiver consciente, coloque-a numa posição reclinada, com a cabeça e os ombros apoiados em almofadas debaixo dos joelhos.
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Chame o médico da vítima ou telefone a pedir uma ambulância.
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Desaperte a roupa no pescoço, tronco e cintura para facilitar a circulação e a respiração.
• Não dê de beber nem de comer à vítima.
• Não permita que a vítima se mexa desnecessariamente, o que serviria apenas para sobrecarregar o coração.
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Se a vítima perder os sentido
s, coloque-a na posição lateral de segurança.






Passou o dia perturbado, inquieto, sentindo como que uma mão de ferro a lhe apertar a garganta, sem deixá-lo quase respirar. 



Passeava de uma lugar para outro, ora estava em pé, ora deitado, ora inclinado à janela para melhor conseguir respiração. 

Viu como que estender-se diante de si um pano fúnebre; ruídos estranhos atordoavam-lhe os ouvidos; espectros lquméricos povoavam-lhe a imaginação. 

Tudo lhe dava a impressão de ser o último aviso de Deus. 

Então ele disse: 

“Eu fui batizado aqui em Eisleben, quem sabe se não devo ficar aqui?” 

A última hora, o instante da “grande viagem”, se aproximava... 

4. A MORTE MISTERIOSA 

Nada mais difícil que descrever a morte do reformador. 

Correm tantas legendas e histórias acerca desta fato; muitos escritores trataram do assunto, de modo que o historiador imparcial não sabe em quem acreditar. 

Paira um mistério sobre este falecimento. 

A razão desta balbúrdia é a seguinte: 

No tempo de Lutero, como ainda hoje, já estava arraigada a idéia de que um perverso deve necessariamente ter uma morte agitada, dolorosa, cruel; e o povo não admite possa uma pessoa reprovada morrer quieta e sossegada em seu leito de dores. 

“Tal vida, tal morte” 

É certo; é, porém, bom notar-se; tal morte se refere à sorte da alma e não ao gênero de morte do corpo. 

É possível um criminoso, às vezes, ter uma morte suave, consolada, e perder a sua alma; como um predestinado, um santo, poder ter um trespasse doloroso, agoniado, e sua alma voar direito para o céu. 

Não se pode negar tenha sido Lutero um homem perverso, corrupto, vingativo, revoltoso, entregue aos mais baixos instintos; e, segundo a opinião citada, estava-lhe reservada a morte equivalente. 

S protestantes acusam os católicos de terem cercado os últimos instantes de seu reformador com pormenores ainda não bastante provados, exagerando talvez a verdade. 

É possível. Não se pode atestar tenha sido aumentadas as proporções do caso, como não se tem certeza do contrário. 

De outro lado, os protestantes, tanto os que assistiram à morte de seu chefe, como os que surgiram mais tarde, tinham todas as razões para apresentá-la como desenlace de um predestinado. 

Os católicos tendiam a um rigor excessivo, e os protestantes, a uma indulgência exagerada. Para evitar discussões sem provas, cada um adotou, pois, a opinião mais coerente com as próprias idéias. 

Desejo ser imparcial; por isso, sem adotar definitivamente esta ou aquela narração a respeito, citarei com brevidade os diversos modos de pensar. 

A primeira opinião, a mais seguida entre católicos e protestantes, é a seguinte: 

Tendo Lutero resolvido voltar para Wittemberg, embora estivesse já alquebrado, doente e cansado, convidou os amigos para um banquete. 

Pela tarde do dia 17 o chefe manifestara ligeira melhora, recobrando passageiramente o seu velho bom humor e espírito zombeteiro. 

Comeram, beberam, cantaram; e, para agradar aos convidados, Lutero não deixou de beber bastante do bom vinho de Eisleben. Parecendo, entre os vapores do álcool, esquecer-se do seu estado doentio. 

Alta noite os comensais se retiraram, ficando, somente Lutero, Justo Jonas, dono da casa, seu criado particular e um filho. 

Conduzido ao seu quarto, Lutero sentou-se num sofá, mandando ao criado retirar-se, por não carecer mais dos seus serviços. 

Que aconteceu nesta noite tremenda? 

Só Deus o sabe. 

De manhã, demorando-se Lutero mais que de costume em seu quarto, o criado foi bater-lhe à porta, mas não obteve resposta, nem notou o mínimo ruído. Conhecendo o servo o estado de seu mestre e receando qualquer catástrofe, chamou Justo Jonas e o filho de Lutero, e abriram a porta, não fechado por dentro. E uma cena mais horrenda e tétrica se ofereceu então aos seus olhos. 

No meio do quarto, entre o móvel e o leito, o corpo de Lutero estava estendido no chão.... o rosto lívido, azulado, de olhar e boca desmedidamente abertos, os braços estendidos, o abdome intumescido, saindo-lhe as entranhas em redor do corpo. 

Era um cadáver. 

A mão justiceira de Deus havia prostrado aquele que durante tantos anos o blasfemara, na pessoa de seu representante visível na terra. 

Lutero já estava na eternidade: excomungado, herege, apóstata, sacrílego, levando as mãos tintas de sangue e tendo a alma envolta em rancores ao Papa e à Igreja de Cristo. 

Triste... Tristíssima bagagem para comparecer perante o Tribunal de Deus! 

Justo Jonas e o criado, à vista do cadáver, já em começo de decomposição, com as entranhas derramadas pelo chão, recuaram de espanto, enquanto Hans Lutero soltou um grito estridente, caindo de joelhos perto de seu pai, para examinar se realmente estava morto. 

Não havia dúvida; tinham diante de si um corpo frio e rígido; levantaram-no e deitaram-no sobre o sofá, indo um deles chamar o farmacêutico Landau para verificar a morte. 

Lutero falecera, vitimado por um ataque de apoplexia fulminante, proveniente talvez da indigestão dos alimentos e bebidas ingeridos no derradeiro banquete. O pretenso reformador da Igreja morrera como vivera: como um trivial gastrônomo.



Autógrafo de Martinho Lutero



A medida da justiça divina estava repleta, e aquele que em vidas se intitulara “uma peste” para o Papa, e que, ao morrer seria a sua morte, foi apenas a peste da seita fundada por ele, em cuja história representa uma negra mancha: o seu desaparecimento não foi a morte do Papa, mas a desgraça espiritual de seus sectários. 

Lutero morreu; o Papado não morre, porque Cristo é eterno. 



O padre Leonel Franca, cuja sinceridade e ciência histórica são indiscutíveis, adota a mesma opinião e conclui: 

“Assim se calou, como um gastrônomo e libertino vulgar, o apóstata que se arrogava em reformador do cristianismo” (A Igreja, a reforma e a civilização. Pg. 200, citando Paulus: Lutero lebesende. Mainz 1896 p. 5). 

“Na hierarquia dos anjos rebeldes, ainda que cause pesar aos seus amigos”, diz outro escritor de renome, “Lutero ocupa o grau mais baixo, mais próximo do lodo e do pântano” (Th. Mainage: Témoignages dês apostats. Paris 1916, p. 76).


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